Tudo bem, bobeira minha, é o que você diz. Sou eu que estou alimentando o preconceito, essa história de discriminação não existe, é tudo coisa da minha cabeça... VAI PRA PUTA QUE O PARIU! Agressivo? Que nada. Não me venha você, com sua pele clara, cabelos lisos e olhos coloridinhos vender essa balela de que somos todos iguais e nós pretos vivemos alimentando a paranóia de que a escravidão deixou resquícios que ainda hoje pesam no comportamento social. Como diz o Mano Brown: “Eu não li, eu não assisti. Eu vivo o negro drama, eu sou o negro drama. Eu sou o fruto do negro drama.”
Eu vi e vejo até hoje as pessoas ficarem desajeitadas, sem saber que termo devem utilizar para se referirem aos meus parecidos. Aí cagam tudo nos chamando de escurinho, moreno ou algo parecido. Qual é problema de falar PRETO? Dói? Na verdade ninguém nos chama assim porque acha que vai nos ofender, moreno é uma forma amena de nos tratar, PRETO soa pejorativo. Agora me contem, se não é preconceito, qual o nome disso?
Experimente ligar sua tv na nossa campeã de audiência e conte quantos negros são colocados em posição de destaque. Poucos, pouquíssimos. Informalmente estabeleceram um sistema de cotas que começa em um âncora de telejornal, passa por um integrante de BBB, 98% das domésticas das novelas, bêbados, vagabundos, mendigos, assaltantes, seqüestradores, policiais de níveis inferiores (corruptos de preferência), etc. De repente surge uma Helena Negra. Uma negra protagonizando uma novela do grande Manuel Carlos em horário nobre... Algo não cheirava bem. Começa a novela e lá vem a pretinha de cabelos esticados pra ficar parecida com os demais habitantes do Leblon, um papel completamente sem brilho, uma Helena apagada que tinha como momentos mais emocionantes os conflitos com sua irmã problemática que nada queria da vida, se casou com um bandido, preto e favelado, foi morar num barraco em uma favela e tinha como conselheiro um camarada que atendia por COISA RUIM. Mas também, já deram à negrinha o papel principal, se ela fosse uma renomada executiva diplomada em Harvard e viesse de uma família exemplar de pessoas bem sucedidas, seria prima do Saci-Pererê. E tudo bem que a protagonista era preta, mas até eu que não acompanhei a trama sei que toda a emoção ficou por conta da antagonista loirinha bocuda que no início era uma menina mimada e no fim tornou-se um exemplo de perseverança e amor à vida, enquanto a pretinha linda de cabelos esticados... Ah ela já era a protagonista e isso é um avanço, motivo de orgulho para a raça. Poupem-me! E logo depois da protagonista negra tratam de reprisar uma novela de escravos. Negros sendo açoitados, humilhados e tendo que contar com a benevolência de uma sinhá e um tal Irmão do Quilombo (brancos) para viverem “dias melhores”. Mas deve ser loucura minha também!
NÃO venha me chamar de paranóico porque eu já vi uma pessoa preferir viajar em pé a sentar-se ao meu lado no ônibus, um segurança de shopping me seguir ou um vendedor de loja ignorar a minha presença. Sem contar as pessoas que tentam me olhar com ar superior. Dentre outras coisas que não vou comentar porque senão escreverei um livro e não um novo post para meu blog.
O fato é: se for se referir a mim ou alguém de pele semelhante, fale PRETO, NEGRO, NEGÃO! Dói não. Aposto que você vai até gostar.
Até.